A fimose secundária e a parafimose são alguns dos critérios absolutos para a cirurgia de circuncisão na criança
Índice
O que é fimose
A fimose é uma condição clínica comum nos consultórios pediátricos. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ela é definida como a incapacidade de retrair o prepúcio, podendo ser uma condição primária (fisiológica) ou secundária (patológica).
No entanto, acredito que essa definição gera dúvida nos pais e na maioria dos médicos não especialistas que cuidam dos meninos. Por isso, oriento aos residentes de urologia, e nas aulas que dou, que fimose seria melhor definida como a falta de elasticidade do prepúcio para expor a glande, tanto com o pênis em estado flácido, quanto em ereção. Nessa definição, englobamos as crianças em que nem conseguimos ver o meato uretral, quanto aquelas que conseguem expor a glande completamente, mas tem dor durante a ereção com a glande está exposta, justamente pela falta de elasticidade do prepúcio para acomodar o aumento de diâmetro da haste peniana.
Dessa forma, o que chamamos de fimose infantil seria melhor entendida como uma aderência natural e fisiológica, que a maioria dos meninos tem ao nascimento, cerca de 97%, e que se resolve sozinha, sem a necessidade de cirurgia. Com isso, passaremos a entender a fimose, independente da classificação, isto é, primária ou secundária, como uma condição patológica, e não como uma condição natural e fisiológica.
A diferença entre primária e secundária é a origem da falta de elasticidade do prepúcio – a primeira é congênita, isto é, nasceu com a criança, ao passo que a secundária advém de trauma ou infecção no prepúcio, que provoca a falta de elasticidade.
Sendo assim, o descuido com a aderência natural do prepúcio na glande, principalmente, devido à falta de orientação de um especialista nos cuidados na higiene e retração gentil do prepúcio, pode causar microfissuras e induzir a formação de uma fimose secundária ou até iniciar uma infecção local — balanopostite. Nesses casos, o urologista pediátrico pode ajudar a definir o melhor tratamento junto com os pais.
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Complicações do prepúcio na criança
O excesso de prepúcio na criança pode causar complicações associadas à má higiene e a emergências de exposição completa da glande, como a parafimose.
Balanopostite
A balanopostite é uma das mais frequentes complicações da fimose em criança, sendo caracterizada por uma inflamação na região da glande e do prepúcio. Ela acontece porque o excesso de pele da fimose dificulta a higienização da região distal do pênis, predispondo o paciente a inflamações, sendo que a principal etiologia infecciosa são os fungos. Portanto, a balanopostite de repetição é um critério para a cirurgia de circuncisão.
Parafimose
Uma complicação emergencial da fimose em criança é a parafimose, que é quando o prepúcio retrai e se forma um anel constritivo que impede que a pele volte a recobrir a glande, deixando-a exposta. A conduta imediata é de uma incisão do anel constritivo para normalizar a cobertura da glande, seguida da cirurgia de circuncisão, que pode ser feita no mesmo momento ou programada para outro dia.
Como a fimose infantil é diagnosticada?
A fimose em criança é diagnosticada a partir da história clínica e do exame físico do pênis, sendo que na consulta pediátrica de puericultura os próprios pais e cuidadores costumam apresentar a queixa de dificuldade de retração do prepúcio da criança. Se não houver melhora do quadro com o passar do tempo, um urologista pediátrico pode confirmar o diagnóstico, diferenciar de um quadro de aderência e definir a melhor forma de tratamento.
Dentre os sintomas de fimose infantil aos quais os pais devem se atentar, estão:
- Dificuldade ou incapacidade de expor a glande;
- Mau odor;
- Inchaço;
- Sangramento;
- Assaduras ou vermelhidão na região genital.
Quais os tratamentos para a fimose infantil?
O tratamento para a fimose em criança é sempre cirúrgico. O uso de medicamentos tópicos, como aplicação de corticoides, são indicados somente O tratamento conservador consiste na aplicação de corticoide tópico, sendo essa a melhor opção para casos não complicados ou emergenciais. Já a cirurgia de circuncisão tem indicações absolutas (a cirurgia deve ser feita) e relativas (a cirurgia pode ser feita), como será visto a seguir.
Quando é realmente necessário fazer a circuncisão?
A cirurgia de circuncisão, chamada postectomia, é a medida definitiva de correção da fimose em criança e um dos procedimentos médicos mais realizados. Mas, atualmente, há uma tendência global de limitar e postergar essa forma de tratamento para evitar procedimentos invasivos desnecessários à criança.
Dentre as indicações formais da SBP para a cirurgia da fimose infantil estão a balanite xerótica obliterante (dermatite atrófica crônica) e a presença de algumas doenças e síndromes que afetam o trato urinário, como o refluxo vesicoureteral, a válvula de uretra posterior, o megaureter e a síndrome de Prune Belly.
Já entre as indicações relativas para a postectomia estão questões religiosas e estéticas, bem como a prevenção de outras doenças. Assim, são indicações relativas da circuncisão, segundo as Sociedades Brasileira e Europeia de Urologia, as balanopostites recorrentes, as infecções urinárias frequentes, motivos étnicos e religiosos e o adolescente que ainda não conseguiu expor completamente a glande.
Porém, é importante reforçar que a prevenção de carcinoma no pênis não é indicação nem mesmo relativa para a circuncisão neonatal rotineira de correção da fimose em criança.
Prevenção da fimose infantil
Não há prevenção para a forma primária da fimose em criança, sendo esperado que 97% dos meninos nasçam com essa condição e ela tenha autorresolução. Já a forma secundária (patológica) da fimose pode ser prevenida com a higiene adequada do pênis e evitando movimentos de massagem e estímulo excessivo da retração.
Recomendações caso o seu filho tenha fimose
Como visto, a fimose infantil é um caso mais do que comum e que os pediatras estão aptos e acostumados a lidar diariamente em seus consultórios. Portanto, caso o seu filho tenha fimose, basta realizar a higiene adequadamente e comparecer a todas as consultas da infância, atentando-se às recomendações médicas.
Caso não haja resolução do quadro por volta dos 3 anos de idade ou as infecções e inflamações sejam muito recorrentes, é válido fazer uma avaliação com um urologista pediátrico. Esse profissional saberá indicar se é necessário fazer um tratamento conservador ou se já há indicações para a cirurgia de circuncisão.
Perguntas frequentes
Veja as respostas para algumas das principais dúvidas dos pais sobre a fimose infantil.
Até que idade é normal ter fimose?
A fimose pode ser encontrada logo no nascimento, podendo permanecer fisiologicamente até os 5 anos de idade, ainda que aproximadamente 50% dos casos se resolvam com um ano, e 90% com 3 anos de idade.
Aderência é o mesmo que fimose?
Não. Aderência é quando o prepúcio está “grudado” na glande, e a fimose é quando há um excesso de pele que impede a exibição da glande. Às vezes, a diferenciação dos casos é complexa, mas um profissional médico pode fazer esse diagnóstico.
Existe fimose em mulheres?
Sim, a fimose em mulheres é rara, mas existe. Nesses casos, forma-se um tipo de aderência entre os pequenos lábios vaginais, sendo que o tratamento pode, também, ser tópico (com corticoides) ou cirúrgico.
Tire dúvidas ou marque sua consulta para saber mais a respeito com o Urologista Dr. Rafael Locali
Fontes:
Sociedade Brasileira de Pediatria
Sociedade Brasileira de Urologia