Intervenção visa a corrigir problemas relacionados a malformações do canal da uretra, fazendo com que a abertura por onde sai a urina fique em local adequado
A cirurgia de hipospádia é uma intervenção que visa a correção de uma malformação congênita que se caracteriza pela abertura anormal do orifício por onde sai a urina (meato uretral). Meninos que apresentam esta anormalidade podem apresentar este orifício em diferentes locais da parte de baixo do pênis, e não na ponta, fazendo com que a urina saia pelo local errado.
O objetivo principal da cirurgia de hipospádia é trazer funcionalidade ao pênis, isto é, fazer com que a urina saia pela extremidade do pênis, em jato único, e que a haste peniana não tenha curvatura, tanto em estado flácido quanto em ereção. O objetivo secundário garantir um aspecto estético adequado.
O ideal é que esta intervenção seja realizada da maneira mais precoce possível, preferencialmente até os 18 meses de vida, de modo a reduzir o trauma psicológico para a criança e proporcionar uma melhor cicatrização dos tecidos.
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Índice
Hipospádia: o que é e quais os sintomas?
A hipospádia é uma malformação congênita que ocorre nos meninos e tem como característica a localização inadequada do meato uretral, a abertura por onde sai a urina. É uma doença que tem um espectro de apresentação bastante grande, pois tem casos muito leves, em que o meato está na glande, mas em uma posição mais baixa, até casos muito graves, com o meato uretral localizado no períneo. Como regra, quanto mais próximo do períneo, mas grave é a hipospádia.
Existem outras alterações da genitália masculina que, normalmente, acompanham a hipospádia. Logicamente, nem todas estão presentes em todos os casos. Essas outras alterações são:
- Distribuição irregular do prepúcio (pele que recobre o pênis), tendo mais pele na região dorsal do pênis e menos na porção ventral. A isso chamamos de capuchão;
- Curvatura peniana ventral;
- Transposição peno-escrotal, que é um posicionamento inadequado do pênis em relação ao escroto;
- Fenda glandar, isto é a glande é aberta na sua porção ventral, não tendo o aspecto de “cone”.
O diagnóstico da alteração pode ser feito logo após o nascimento do bebê, por meio de exame físico. Nos casos mais extremos de hispopádia infantil, pode-se até ter dificuldade para se estabelecer o gênero da criança, necessitando de alguns exames para essa confirmação, como cariótipo. A confirmação do problema deve ser feita preferencialmente por um urologista pediátrico.
Na Clínica do Dr. Rafael Locali o atendimento humanizado e de qualidade é a nossa prioridade. Tire dúvidas ou agende uma avaliação!
Tipos de hipospádia
A classificação da hipospadia é realizada por meio da posição do meato uretral (figura). São eles:
Hispopádia distal
- Glandar – abertura está na glande, mas em uma posição mais baixa
- Coronal – abertura na topografia da coroa da glande
- Subcoronal – abertura abaixo da cora da glande
Hipospádia proximal
- Médio peniana – abertura no meio da haste peniana
- Peno-escrotal – abertura na transição entre a haste peniana e o escroto
- Escrotal – abertura no escroto
- Perineal – abertura no períneo, entre o escroto e o períneo
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Quais são as causas da alteração?
As causas desta alteração ainda não são completamente conhecidas, sendo atualmente aceito que o problema decorre de múltiplos fatores que levam a um defeito no desenvolvimento embrionário, podendo ter relação com a hereditariedade. Outros fatores considerados significativos para que a hipospádia ocorra são:
- Defeitos na produção de testosterona ou nas enzimas relacionadas a esse hormônio;
- Agentes ambientais que podem prejudicar a ação do hormônio masculino;
- Uso de progestógenos durante a gestação;
- Reprodução assistida;
- Idade materna avançada.
Cirurgia de hipospádia: quando é necessária?
O tratamento da hipospádia é sempre cirúrgico, sendo essencial corrigir esta alteração para que o menino não enfrente problemas ao longo da vida. Quando não tratada, essa malformação pode levar a consequências relacionadas à dificuldade para urinar em pé, além de dificuldades ao longo da vida sexual. As alterações estéticas consequentes da malformação também podem comprometer a autoestima e o bem-estar do paciente.
É muito importante um bom entendimento da doença urológica por parte dos pais, assim como uma boa relação com o urologista pediátrico que está conduzindo o caso. Além disso, o alinhamento de expectativas de resultado é vital, para que não surjam desavenças e atritos na relação médico-paciente-familiares.
Inicialmente, é importante saber que o primeiro objetivo da cirurgia é deixar o pênis funcional. Entende-se como funcional como a capacidade da criança conseguir urinar em pé, sem molhar a roupa, com a urina saindo pela extremidade do pênis, em jato único, sem necessidade de esforço miccional. Além disso, o pênis precisa estar reto, sem curvatura, tanto flácido quanto ereto. Veja que funcionalidade não é o mesmo que boa aparência estética.
O segundo objetivo é fazer com que o pênis tenha a aparência mais parecida que um pênis normal. É preciso entender que, infelizmente, o paciente nasceu com um problema, isto é, com uma parte da uretra ausente, e que a cirurgia consiste em construir uma parte do corpo que NÃO existe. É completamente diferente de operar a parte de um órgão que já existe. Por isso, muitas vezes, são necessárias mais de uma cirurgia para alcançarmos o resultado que esperamos, assim como temos que lidar com uma chance de complicações cirúrgicas um pouco mais elevadas.
A cirurgia de hipospádia consiste no fechamento da abertura que está posicionada em local inadequado e construção de um novo orifício na ponta do pênis do paciente, além de corrigir a curvatura peniana, distribuir adequadamente a pele prepúcio ao redor do pênis, fechar a glande e ajustar o posicionamento do pênis em relação ao escroto. Há diferentes técnicas que podem ser utilizadas pelo cirurgião uropediátrico para correção do problema.
A maioria dos pacientes precisa realizar apenas uma cirurgia de hipospádia, não sendo necessária mais de uma intervenção para corrigir a alteração. Existem casos considerados mais graves, em que mais de uma operação corretiva precisa ser executada para um resultado satisfatório. Nestas situações, o intervalo entre as intervenções deve ser de seis meses.
Habitualmente, o paciente necessita permanecer com uma sonda uretral para a drenagem da urina, durante todo o processo de cicatrização, que varia de 7 a 14 dias. Além disso, é confeccionado um curativo especial ao redor do pênis, que não pode ser molhado, de maneira que a criança precisa tomar o famoso “banho de gato”, até retirar o curativo. Também é fundamental o uso de antibiótico no pós-operatório para evitar infecção.
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Avaliação pré-operatória
A preparação cirúrgica envolve avaliação da aparência geral do pênis, verificando suas dimensões. Dependendo do caso, pode ser recomendada uma terapia hormonal prévia, com estímulos androgênicos ou suplementação de testosterona. Este tipo de abordagem favorece o aumento do pênis e da pele prepucial, levando a uma melhora na vascularização, e consequente melhor resultado cirúrgico.
Os preparativos para a cirurgia de hipospádia também envolvem a realização de exames de sangue para verificação de possíveis condições que podem comprometer o processo de cicatrização e trazer risco à saúde do paciente.
Recuperação e cuidados pós-operatórios
Após a cirurgia de hipospádia, é esperado que a criança fique internada de dois a três dias. É necessário que o paciente fique com uma sonda na bexiga, o que não impede que ele faça atividades simples como caminhar ou engatinhar. O uso de antibióticos, analgésicos e medicamentos anti-inflamatórios é essencial para garantir o conforto do menino durante a recuperação pós-operatória e prevenir infecções.
Para controlar o inchaço e proteger a ferida operatória, o paciente deve ficar com um curativo ao redor do pênis. Este curativo deve ser removido SOMENTE pelo uropediatra, cerca de 5 a 7 dias após a intervenção. É fundamental que se tenha muito esmero no cuidado pós-operatório, porque a cicatrização depende muito dessa fase.
Complicações esperadas desse tipo de cirurgia são as fístulas, deiscências da sutura, infecção de ferida operatória, perda de vascularização da pele do prepúcio, hematomas na haste peniana e pequenos sangramentos na linha de sutura, recidiva da curvatura peniana e estenose de meato. Essas complicações devem ser acompanhadas e avaliadas por um especialista, de modo a programar o tratamento.
Fontes:
Sociedade Brasileira de Urologia
Projeto Diretrizes — Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina